Amadú Dafé

 Amadú Dafé

As crianças da Guiné-Bissau são muito corajosas e batalhadoras. Trabalhar e só depois brincar faz parte, para eles e para os seus educadores, de uma reciprocidade indispensável a uma boa educação. Aprendem muito cedo que a vida é um mar intransitável que invalida esforços e esperanças, pelo que lhes resta respeitar e obedecer aos outros, especialmente aos mais velhos e, sobretudo, aceitar as condições económicas em que vivem. O respeito pelos mais velhos é a conduta de base da educação das crianças e aprender a trabalhar ainda muito novo e a obedecer cegamente às ideias dos velhos é a concepção básica para a obtenção de um futuro melhor. Por isso, elas são obrigadas, por conduta, a trabalhar com responsabilidade e consciência firme e ainda são obrigadas a submeterem-se aos mais velhos, como forma de preparar melhor a sua vida.
Na Guiné-Bissau, o trabalho de crianças é natural e, talvez por ser prático, é bem visto. A grande maioria dos educadores domésticos, para educar melhor, tem que fazer referências às crianças vizinhas que trabalham muito. Tratam com mais carinho e zelo as crianças que se empenham muito no trabalho. Diz-se que uma boa uma menina é aquela que, ao levantar-se da cama, se preocupa antes de tudo com a vassoura para varrer a casa, depois com a água para encher o pote e para lavar as tigelas (louça) e só depois é que cuida de si própria, lavando-se e tomando o pequeno-almoço para depois brincar. Isto é eterno na mente das meninas, mesmo estando hospedadas noutra casa. E diz-se também que um bom menino é aquele que procura lenha para a cozinha da casa, segue o pai à horta e, quando mandado, faz o que lhe é dito sem reclamações ou murmúrios. É com esta mente que crescem. É dentro desta sociedade que representam aquilo que são. As crianças são realmente uma gota fria de lágrimas inocentes, que chora sem saber porquê. São das sensações de frio mais serenas, porque tudo isto se passa, não em complemento da escola e da brincadeira, mas, muitas vezes, em vez da escola e da brincadeira. Pior ainda, há casos em que os filhos são “expulsos” de casa pela manhã e só podem regressar quando arranjarem uma determinada soma de dinheiro. Às vezes levam algo à cabeça para venderem, outras vezes apenas uma lata e pés descalços…


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