A Criança no Divórcio

27-01-2011 18:01

 

 

O divórcio implica todo um período de transição que pode levar meses ou anos, mas no entretanto existe a hora em que os pais comunicam a sua decisão aos filhos.



A separação de um casal é sempre um processo complicado graças às alterações no quotidiano de vida que acarreta para toda a família. Mesmo quando a mudança é para melhor. Tanto mais quando existem filhos no meio, perdidos entre inseguranças, receios e falsas culpas.

Antes de mais, há que promover uma postura da verdade. Depois de tomada a decisão da separação, não vale a pena deixar arrastar a conversa obrigatória com os filhos. O pior é deixá-los perceber que algo se passa sem se prontificarem desde logo para falar, esclarecer e dissipar dúvidas. O não dito só potencia sentimentos de insegurança e medo dos filhos, que não compreendem exactamente o que está a acontecer.

A verdade é a melhor conselheira

A criança deve ficar a par da nova situação o mais cedo possível e sempre em conversa com o pai e a mãe, juntos, e nunca por intermédio de terceiros. Mesmo com crianças mais pequenas é importante verbalizar a situação, nem que seja através de uma história que ilustre de forma mais realista possível o que se vai passar. Chegada a altura da comunicação, a verdade é a melhor conselheira, desde que não seja pretexto para acentuar o sofrimento inevitável das crianças perante o anúncio do divórcio.

Há que ter sempre em atenção a capacidade de compreensão destas consoante a idade e não esquecer que a criança deve ser poupada a pormenores detalhados da separação que só contribuem para aumentar sentimentos negativos. Urge encontrar um equilíbrio entre a crueza de certas verdades e o esforço contraproducente de criar a ilusão de que nada vai mudar. Honestidade e serenidade são a pauta do discurso. Mesmo quando a relação do casal já comportava alguma agressividade, expressa periodicamente em momentos de discussões abertas, esta conversa dever ser calma e serena.

Explicado o porquê, os pais, por muito que lhes custe ver os filhos sofrer, devem abrir um espaço para que as crianças manifestem os seus sentimentos. É importante deixá-los chorar ou mesmo expressar de forma livre todas as emoções negativas que geralmente marcam a reacção do divórcio: raiva, insegurança, dor. É ainda aconselhável que o anúncio não assuma a forma de um comunicado unilateral. Se é verdade que os filhos não podem alterar a decisão tomada pelos pais, isto não implica que as crianças sejam votadas ao silêncio.

No caso dos filhos não reagirem verbalmente, numa altura em que um turbilhão se instalou nas suas cabeças, cabe aos pais perceberem se os devem deixar reflectir um pouco e organizar as ideias ou, pelo contrário, motivá-los a expor as suas dúvidas.

Os verdadeiros inimigos

O medo e a culpa são os principais inimigos das crianças no processo de divórcio. O medo de perder o amor dos pais e o sentimento de serem culpados da separação são emoções vulgares a desconstruir. Se seria uma hipocrisia insistir no discurso de que nada vai mudar, é essencial que a criança entenda que o amor que o pai e a mãe lhe dedicam não vai sofrer alterações.

Que perceba que o divórcio é entre o casal e nunca entre os pais e os filhos. Esta é a garantia mais essencial para que o divórcio não faça nascer emoções de insegurança, frustração, ansiedade ou raiva na criança. Também os sentimentos de culpa em que os filhos têm tendência a cair devem ser arredados ao longo desta conversa. Os pais devem explicar que a separação não teve nada a ver com eles e marcar bem a fronteira entre a relação de casal e as de maternidade e paternidade, que se mantêm incólumes.


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